Num país continental como o Brasil, com pouco mais de 8 mil quilômetros de costa, a navegação costeira não só é a via natural, como a mais econômica, eficiente e sustentável. E o setor produtivo nacional está atento a essas vantagens, que geram impacto não só para as próprias empresas, quanto para as comunidades locais, o meio ambiente e a sociedade em geral. Só em 2022, o setor portuário nacional movimentou 1,209 bilhão de toneladas, a segunda maior média registrada desde 2010, de acordo com a Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (ABAC). Desse montante, 283,3 milhões de toneladas foram transportadas internamente, pela costa, meio conhecido como cabotagem, que oferece soluções eficientes de transporte porta a porta, incluindo o planejamento logístico.
As embarcações são preparadas para transportar de helicópteros a aparelhos eletrônicos, de medicamentos a biocombustíveis, de itens de vestuário a grãos, com a previsibilidade de entrega mais assertiva entre todos os meios disponíveis – a pontualidade bateu a média de 90% nos últimos 3 anos, segundo a ABAC. Somado a isso, oferece um custo competitivo se comparado aos outros meios, principalmente em trajetos de longa distância.
Nos últimos 10 anos a navegação costeira cresceu em média 11% ao ano e segue em ritmo de crescimento acima do PIB e também superior ao crescimento da indústria. Isso mostra que ela vem ganhando espaço na matriz de transporte brasileira, e que pode e deve sempre fazer parte do planejamento logístico das empresas que atuam em um território tão vasto quanto o território nacional.
Atualmente, o Brasil tem uma frota de 70 navios, segundo a ABAC, número significativo, mas que indica espaço para muito crescimento e aceleração. Segundo um estudo do Instituto Ilos, organização especializada em logística e supply chain, para cada 1 contêiner transportado pela navegação costeira, existem outros 4,8 que poderiam se utilizar do modal aquaviário no país. O mesmo instituto indica ainda que 21% das indústrias brasileiras manifestam a intenção de aderir à cabotagem. Atualmente, 63% da produção nacional é escoada por rodovias, 19% por ferrovias e 13% por vias marítimas.
A História do Brasil mostra que as políticas públicas, aliadas a necessidades imediatistas, geraram um desequilíbrio em nossa matriz de transporte. Entre os anos de 1870 e 1930, ocorreu um grande investimento em linhas férreas, muito incentivado pela expansão cafeeira, que demandava à época um escoamento mais eficiente. Já no século XX, na época de Juscelino Kubitschek, o Brasil passou por um processo rápido de expansão de seu parque e produção industrial, e o governo encontrou nas rodovias a maneira mais rápida de acompanhar essa grande transformação, e que de fato trouxe uma integração territorial que também se fazia necessária. Por isso, hoje temos o transporte viário como o principal meio de transporte. É válido ressaltar que o meio rodoviário não é contrário a outros modais, sendo eficaz para distâncias curtas, e a combinação de diferentes opções de transporte usando a cabotagem traz vários benefícios.
Considerando a responsabilidade ambiental, a navegação costeira emite 4 vezes menos gases de efeito estufa, se comparada aos demais modais de transporte, como o rodoviário, segundo o Observatório do Clima, além de causar menos acidentes ambientais, com maior controle e responsabilização. Além disso é um transporte muito mais seguro ajuda a desobstruir as já tão congestionadas vias rodoviárias, pois para cada navio transportando carga são dezenas de caminhões fora das estradas em rotas mais longas.
A navegação costeira caminha ao lado de outros setores da economia como agente ativo para a construção de um desenvolvimento social e econômico sustentável. E o Brasil tem potencial para ser um dos protagonistas globais neste segmento.
Por Gustavo Paschoa