Na região amazônica, “rios são estradas”, conforme preconiza a máxima. São 25 mil quilômetros de vias navegáveis que transportam passageiros e cargas a confirmar a vocação natural do território para a cabotagem, principalmente a partir de Manaus, onde não há acesso à estrada. Sempre há um trecho fluvial na carga que chega ou sai da capital manauara, mesmo quando é utilizado o transporte roll on – roll off de carretas e caminhões em barcaças até Belém ou Porto Velho.
A cabotagem é responsável pelo transporte de todo tipo de carga para o comércio local, bem como para o escoamento dos bens produzidos pelas Indústrias do Polo Industrial de Manaus e para os produtos da bioeconomia regional, como o açaí. Desde a sua retomada ao final da década de 90, a cabotagem vem crescendo ano a ano.
Segundo o último Censo do IBGE, recém-divulgado, a Região Norte registrou a segunda maior taxa de crescimento dos últimos 12 anos, atrás apenas da Centro-Oeste. São 17,3 milhões de consumidores na região, sendo boa parcela desse contingente dependente diretamente da cabotagem para uma logística mais econômica, uma vez que o frete neste modal chega a alcançar uma economia superior a 20% em relação ao frete rodoviário, o que impacta diretamente no custo do produto final. O Polo Industrial de Manaus faz bom uso da cabotagem – só em 2022, registrou um faturamento recorde de R$ 174,1 bilhões em produtos como eletrônicos, condicionadores de ar e itens termoplásticos, por exemplo, que são transportados pela cabotagem não somente pelo fator custo, mas também pela segurança e baixíssima sinistralidade da carga que, em sua grande maioria, tem um alto valor agregado. Por isso, o grande desafio desse modal na região é apresentar soluções competitivas de multimodalidade para a entrega ao cliente final e, sobretudo, prover contingências na época da estiagem do Rio Amazonas, quando se pode enfrentar fortes reduções de carga pelas restrições de passagem em alguns trechos críticos.
Apesar de ser a primeira opção de transporte na região amazônica, ainda existe uma boa parcela de carga rodoviária que poderia passar a utilizar a cabotagem, com uma maior oferta de saídas de navios, operações multimodais estruturadas e confiáveis e buscas de alternativas mais competitiva para operar no período de secas do Rio Amazonas. Aliado a isso, é necessário facilitar a logística para empresas de pequeno e médio porte, que, eventualmente, têm dificuldade para entender e seguir os procedimentos para embarque, o que na prática não é difícil, mas requer uma adaptação. Outra tendência na região norte é uma maior interação no uso de barcaças (ou balsas, como também são chamadas), ampliando a capilaridade de entrega em regiões sem acesso por estradas. A maior eficiência nas sinergias com o modal rodoviário para o last mile é outro ponto de atenção, pontualidade e segurança, temas de vigilância constante para melhorar a percepção do cliente na entrega do serviço.
Por último, mas não menos importante, a cabotagem pode contribuir significativamente para a redução dos impactos ambientais nessa região, pois é sempre a melhor opção em termos de sustentabilidade. Em tempos de políticas de ESG, as empresas que operam estão tão conscientes da importância do modal para um menor impacto ambiental que muitas delas publicam a utilização da cabotagem em seus relatórios anuais de impacto ambiental, demonstrando a redução da emissão de CO2 com a utilização de um modal mais sustentável. Um esforço muito grande está sendo feito para promover a bioeconomia na região amazônica, e a cabotagem certamente poderá contribuir na logística de escoamento destes futuros modelos econômicos.
Por Gustavo Paschoa